quinta-feira, 14 de junho de 2012

Não existe outro sentimento no mundo que nos faça mais feliz do que carregar no coração a certeza de que se ama alguém, ao mesmo tempo em que se contempla infinitas fagulhas de reciprocidade nos olhos e nas atitudes dessa pessoa por quem nos apaixonamos. Amar e ser amado é um dos binômios da felicidade.

O amor está em toda parte. Onde quer que se vá, o que quer que se pense, independente do caminho que se escolha, o amor estará lá, feito um holofote a iluminar as boas lembranças de um passado, as coerências duvidosas do presente e as incertezas esperançosas do futuro. O amor é o que nos une, o que nos rege, o que nos salva e o que nos mantém vivos.

Apesar de nem todos os amores serem eternos, nem todos os amores serem sinceros, nem todos os amores serem justos e nem todos os amores serem pacíficos - (sim, porque existem infinitas formas de amar e ser amado) - é sobretudo a certeza desse sentimento que nos acena com a possibilidade real de nos tornarmos pessoas melhores nesse mundo.

É por isso que quando o amor nos dá adeus, muito mais que a dor da perda, da ausência do outro, da rejeição do que se ofereceu, dos detalhes encravados na memória, das lembranças que se esvaem com o tempo, ..., ainda maior que tudo é a saudade que sentimos de quem éramos enquanto amávamos. Quando aquele amor que parecia ter vindo para ficar vira pó, acabamos nos tornando órfãos melancolicamente saudosos de nós mesmos.

Não tem como se saber o momento exato em que o amor se esvai. Podemos culpar as brigas homéricas, as indiferenças rançosas, as distâncias geográficas e afetivas, os terceiros e quartos que cruzam os caminhos, as circunstâncias(!) pouco sinceras de um e de outro, e até as incompatibilidades nisso ou naquilo... Até hoje não sei se somos nós que fingimos não perceber quando ele parte, ou se ele discretamente escorre por entre os nossos dedos enquanto tentamos de todas as formas agarrá-lo. Mas do que todo mundo que um dia já amou sabe, é da tristeza que é perder a certeza do amor de alguém ou quando nós mesmos deixamos de amar.

...

Agora quero falar de uma categoria excepcionalíssima de amor...

Existem amores que, além de serem mais eternos do que os que já foram eternizados nas gavetas da nossa memória, conseguem ser ainda mais amores do que qualquer um que um dia já tenha usucapido o nosso coração. E são justamente esses amores que são elevados à condição de sagrados e intocáveis.

É possível que isso explique aquela sensação de incredulidade absoluta e de vazio descomunal que nos arrebata quando nos damos conta de que deixamos de ser importantes e amados e, principalmente, quando percebemos que aquele sentimento, intrínseco a nós mesmos, e que julgávamos ser infinito, não tem mais razão de ser, caducou, expirou.

Independentemente de motivações outras, um amor que se termina assim leva consigo uma parte da gente. Mesmo que um dia nos arrisquemos e até aprendamos a amar de novo, aquilo que se perdeu jamais se encontrará em outro alguém. Mesmo que sejamos nós que tenhamos deixado de acreditar no amor.

Existe um luto inconsolável e irremediável em deixar de crer no amor. Porque é uma parte de nós mesmos que estamos matando, e é de uma parte da nossa própria história, escrita a quatro mãos, que estamos abdicando. Perde tanto quem deixa de acreditar quanto quem deixa de ser amado. Simplesmente, porque quando o amor fecha as portas, não há como consagrar vencedores. Perco eu. Perde você. Esvaziamos nós.


2 comentários:

Marcio JR disse...

O mais engraçado é que até podemos deixar de acreditar no amor, mas ele volta as vezes, e não está nem aí se acreditamos ou não nele. Não é circunstancial. Você pode estar receptiva ou não, acreditando ou não, querendo ou não, procurando ou não. Ele não liga, e se instala.

É ainda pior quando pensamos ter encontrado o maior amor de nossas vidas e, repentinamente, outro alguém aparece e nos desperta paixão. Essa paixão cresce e confunde tudo. Isso é amor? Podemos deixar de amar alguém para amar outro alguém? Ou estamos amando duas pessoas ao mesmo tempo? Ou, ainda, só pensamos que amamos e não sabemos sequer o que é o amor? Complicado isso tudo.

Uma das coisas que mais me magoou nessa vida, foi saber que amei e me dediquei, me entreguei, e simplesmente a mulher amada esnobou o que eu sentia, e pisou na minha entrega. Ela falava que me amava, demonstrava isso, fazia planos comigo, e do nada, aquilo tudo acabou para ela. Era amor por parte dela? Demorei muito para aceitar a situação, e hoje eu vejo que nem era por conta do amor, mas sim por tudo aquilo que destinei a ela, como sentimentos, entregas, promessas e sonhos. Eu vivi para ela e estaria vivendo ainda, mas ela preferiu outro. Não a substituí em meu coração, pois acredito que isso seja algo quase impossível, e ainda lembro dela. Não lembro com aquele sentimento lá de trás, mas também não tenho raiva. Só não a quero mais. O que fiz foi acrescentar, com o tempo, outra mulher no coração, com outra carga emocional, com outro sentimento intenso e que pode ser amor ou não.

Ao fim de tudo, nem sei se conheço verdadeiramente o amor. Mas estou tentando. rsrs.

Neca, mocinha. Uma crônica com um toquezinho de amargura, mas para ler e re-ler, se identificar em cada linha, e, principalmente, despertar nossa auto-crítica. Adorei.

Bjs, minha querida.

Marcio

14 de junho de 2012 às 14:56
Neca disse...

Marcito,
Não digo amargura, acho que é mais resignação e saudade do que se esvaiu.
Mas, tal como vc e em que pese haja um eventual balanço positivo do que findou, também não quero mais. Não vale a pena. Ponto Final.
Mais uma vez, obrigada por deixar seu recadinho por aqui... B-jitossss!

14 de junho de 2012 às 15:17

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