sexta-feira, 15 de junho de 2012

Se tem um naipe de gente que eu - muito profunda e sinceramente abomino - são as pessoas esganadas. Sei que esganado é também sinônimo de quem é sovina e pão-duro (*o que também é lamentável), mas por hora, me refiro especialmente àquelas pessoas que, dominadas pela gula, perdem a elegância, a etiqueta e qualquer senso de educação.

Fome sinto eu, sente você e sentimos todos. Aquela vontade louca de devorar um doce que só de pensar dá água na boca, idem. E, certamente, não há quem um dia não tenha ficado apreensivo numa fila de padaria torcendo para que a fornada de paezinhos francesses não sublimasse antes que a sua vez de fazer o pedido no balcão chegasse. E nem por isso perdemos a classe e esquecemos os bons modos. Acima de tudo, civilidade.

...
Estava no shopping quando fui totalmente seduzida (hipnotizada e abduzida) por aquela tentação denominada fondue de chocolate com frutas. Não pensei duas vezes: entrei na loja e fiz o pedido.

À minha frente, umas cinco pessoas aguardavam a moça preparar os potinhos e, logo atrás de mim, uma senhora com seu marido e filhos. Enquanto esperava a minha vez, fiquei encantada admirando aquele chafariz de chocolate a partir do qual o fondue era preparado. Impossível não pensar em mergulhar de biquinho naquela gostosura dos deuses (entre outras coisas mais, o que não vem ao caso, mas enfim...). Já refeita da minha rápida alucinação gastro-erótica, percebi que a tal senhora que havia pago no caixa depois de mim, estava aflita grudada às minhas costas. Me senti incomodada. Num sutil sinal de desagrado, dei um passo para a frente. Não adiantou - ainda assim sentia o bafo da criatura agonizante no meu gangote. Dei mais outro e ignorei.

Chegada a minha vez, entreguei o ticket e pedi para que o meu fondue fosse só de morango com chocolate. A atendente pegou o papelzinho e solicitou que eu aguardasse um instante porque iria buscar mais frutas. Enquanto isso, acabei me distraindo verificando o preço de uma cesta e outras caixas de bombons para presente que estavam na prateleira ao lado. Só sei que quando ouvi a funcionária pronunciar o 'moça, seu fondue', a senhora gulosa que se assemelhava a uma gêmea xifópaga da minha sombra, já tinha se bocado no meu potinho. E mais... sem perder tempo, devorava a primeira colherada e se lambia gemendo de olhos fechados no melhor estilo Ana Maria Braga.

A mulher se afundou de uma forma naquele pote que quando a atendente da loja pensou em alertar a esganada de que acabara de furar a fila, o trator de esteira já estava na segunda ou terceira colherada.

Não que eu seja uma lady, aliás, passo longe desse conceito e, normalmente, rodo a baiana em situações assim, mas, confesso que fiquei sem reação. Emudeci olhando aquela infeliz levando a todo instante a colher à boca como quem chega ao posto de gasolina com três quartos de tanque cheio e pede para o frentista completá-lo a fim de mantê-lo sempre transbordando pelo gargalo. Deprimente.

O pior é que as pessoas sempre se superam. Depois de levar um cutucão do marido, a morta de fome virou para mim, com os dentes pretos de chocolate e a boca remelenta, dizendo:

- Ah, querida, me desculpe. É que não me aguentava mais de fome e sou uma senhora e você que é novinha, tem uma vida inteira para esperar na fila.

Juro.... Me veio um dicionário inteiro de palavras chulas e impublicáveis em mente. Pensei em dizer poucas e boas para aquela estivadora desprovida de educação e cheguei a ensaiar abrir a boca para detonar aquela mulher. Até agora não sei como, naquele momento, um Dalai Lama baixou em mim. Respirei fundo, sacudi a cabeça negativamente e me mantive calada. Era caso perdido. Tanto é verdade, que tão logo me desaforou dizendo aquele absurdo, já tratou de recomeçar a lavourar o meu ex fondue novamente.

Fiz cara de reprovação, virei de costas e pensei: 'Tomara que se engasgue'.

Acho que deve ter passado um anjo e dito amém. Tamanha era a gula da mulher que de fato se engasgou e começou a tossir, enquanto o marido, envergonhado, dava tapinhas nas suas costas e as outras pessoas riam da mal-educada.

...

Não dá para ser boazinha o tempo inteiro e sei que é politicamente incorreto dizer. Mas que foi bem feito... ahhh... isso foi!

2 comentários:

Marcio JR disse...

Neca, mocinha. Calmaaaaaa. rsrs.

Olha, é realmente deprimente quando encontramos certos "tipos" como essa troglodita que te atropelou em pleno shopping. O pior é que as pessoas estão cada vez mais sem um pingo de educação. Já passei por alguns apuros com duas malucas, numa loja de roupas. Elas se engalfinharam, e eu... bom, eu escrevi uma crônica sobre elas e dei boas rizadas.

Tenho pavor de pessoas esganadas. Acredito que tudo pode ser feito sem pressa, sem atropelos, com cordialidade. Nada justifica a falta de educação, a gula, a pressa. Seria tão bom se as pessoas agissem com comedimento, com mais classe e, principalmente, com mais humildade.

Perdoa minhas risadas, mas é que mesmo sendo uma situação trágica, fiquei aqui torcendo para que ela se engasgasse também. Oh! Povinho mesmo.

Neca, minha querida. Você me atiçou com este teu fondue. Agora, vou ter que passar no supermercado e comprar chocolate e morangos. Só espero não encontrar a esganiçada por lá. rsrs.

Bjs, Neca.

Marcio

15 de junho de 2012 às 10:32
Neca disse...

Bem feito, bem feito, bem feito!!!! rsss.
Smacksss fonduelentos!

15 de junho de 2012 às 11:11

Postar um comentário