terça-feira, 3 de julho de 2012

Deixar que o tempo faça a sua parte funciona tal como sonrisal. Você compacta seus dissabores numa pastilha e coloca num copo com água. Aos poucos vai percebendo que os sentimentos ruins efervescem ao passo que os que realmente importam e têm propriedades terapêuticas permanecem no fundo do copo semimisturados à água. Basta que você dê uma mexidinha antes de tomar e pronto! É alívio quase imediato para quase todas as dores.

(...)

De uma forma ou de outra a gente vai acomodando a vida. Dribla um desencanto aqui, reinventa outra alternativa ali e, aos poucos, vai arranjando lugar para algumas coisas que precisam ficar encaixotadas na dispensa dos pensamentos. Com o decorrer do tempo tudo vai se ajeitando.

Entretanto, existe uma única categoria que não admite clausura e não convalesce com o passar das horas, dias e meses. Nada! Não há embrulho que comporte, não há compartimento que acomode, não há espaço físico que suporte, não há silêncio que aplaque, não há distância que separe, não há remédio que combata uma saudade.

A saudade, inclusive, é totalmente imune à ação do tempo e não tem cura. Sintomaticamente progressiva, ela só aumenta à medida em que os dias passam e pode se alastrar pelo corpo todo. Sim, o organismo inteiro da gente sente saudade e todas as nossas funções vitais podem ser contaminadas por ela.

Nossa... escrevendo assim pode até parecer que estou dando a entender que seja algo que se assemelhe a algum câncer ou doença degenerativa. Aliás, eu mesma já cheguei a pensar que a saudade era algo ruim, que machucava e corroía por ser intermitente.

Que bobagem! Longe disso...

Hoje, com o tempo, descobri que a saudade é o pozinho de sonrisal que ficou no fundo do copo. Pode até ser que não nos cure de todos os males, mas lembrar de fatos ou pessoas que nos fizeram felizes pode nos aliviar do mal-estar. Afinal, só sentimos saudade daquilo que um dia foi valioso pra gente. Ninguém sente saudade das coisas ruins.

É por isso que nesta terça-feira (e em todas que virão) a saudade anda comigo e está nos meus olhos para quem quiser ver. A minha saudade se renova todos os dias e jamais será apagada. É muito bom sentir saudade. Na minha bula não constam contra-indicações e está escrito em letras garrafais que ela é feita das melhores lembranças da minha vida e que hoje enfeitam quem eu sou.

2 comentários:

Marcio JR disse...

Oi, Nequinha.

Tanto já falei em tempo, que o próprio tempo se esvaiu de mim. Tanto já falei em saudade, que a própria saudade alojou-se em meu peito, alastrando momentos que só o tempo amainou, ou, ao menos, tentou.

Mocinha. Saudade, como você tão bem disse, só é sentida daquilo que foi bom. E ela, a saudade, não pede licença e muito menos se faz de rogada. Simplesmente se alastra, cresce, toma cada centímetro, e floresce em forma de lágrimas as vezes.

Viver é uma arte, e sentir saudades é uma dádiva de um coração sensível.

Adorei. Beijos, mocinha.

Marcio

4 de julho de 2012 às 08:35
Neca disse...

É como diria Mário Quintana:

"Saudade é uma coisa que fica daquilo que não ficou".

Bjitos, Marcito!!!!

4 de julho de 2012 às 09:03

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